Os mercados mundiais quase sempre estiveram conectados através de algum sistema. Alguns importavam suas mercadorias, outros criavam sistemas de escambo, alguns distribuíam suas riquezas. Com o passar dos séculos, graças ao desenvolvimento tecnológico e aos sistemas políticos que se desenvolveram, as formas de negociação se modernizaram e trouxeram consigo o efeito da globalização, onde um acontecimento do outro lado do mundo afeta diretamente ou indiretamente o nosso dia a dia aqui no Brasil.
Essa discussão da influência de países em outros mercados é algo que já ouvimos muito nos noticiários. O que de fato acontece é que com o aprimoramento dos sistemas financeiros mundiais, a complexidade dos efeitos se tornaram um pouco maiores, principalmente, dentro do mercado de capitais.
A bolsa de valores é uma das peças que se encaixam dentro do dominó econômico do mundo. Por isso, compreender a influência que as decisões políticas internas e externas incidem sobre a bolsa de valores é dar um passo à frente em relação a como tomar boas decisões e ser um investidor de sucesso.
A seguir você poderá compreender os princípios básicos do mercado financeiro e entender como o cenário político o afeta.
O que você vai aprender:
- O que é mercado financeiro?
- Política Interna e seus impactos econômicos
- Política Externa e a influência indireta e direta no mercado
- Bolsa de valores, o investidor e o noticiário econômico
- Para não se desesperar
O que é mercado financeiro?
Para falarmos sobre o mercado financeiro, precisamos citar o SFN, ou Sistema Financeiro Nacional. Esse sistema é composto por entidades regulamentadoras (normativas), fiscalizadoras (supervisoras) e executoras (operadoras). Todas as instituições que compõem esse sistema possuem objetivos de manter a estrutura do mercado financeiro do país em perfeito funcionamento.
O mercado financeiro é dividido em quatro áreas, mas é importante lembrar que mesmo havendo essa divisão, dentro do dia a dia, elas se misturam e muitas vezes até se confundem. Esse fato é muito relevante já que, mais a frente, você verá que decisões que afetam cada uma dessas áreas também impactam as demais e influenciam os seus investimentos na bolsa de valores.
Mercado monetário: esse é o que cuida do dinheiro que está em circulação, é ele que garante a liquidez ao sistema financeiro. Ao passo disso, uma dos principais agentes dentro desse mercado é o Banco Central (BC), que executa a política monetária utilizando da taxa de juros básica para regular a circulação de moeda.
Mercado de crédito: a função desse mercado é tornar acessível a empresas e pessoas físicas linhas de crédito pensadas do curto ao longo prazo. É composto por bancos públicos e privados, caixas econômicas, sociedades de crédito, cooperativas de crédito etc.
Mercado de câmbio: este é o ambiente onde são negociadas as moedas estrangeiras, seja para viagens, ou para transações como exportações, importações, pagamentos ou transferências de dívidas.
Mercado de capitais: é neste mercado que a bolsa de valores se encaixa, pois é nele que está inserida a aproximação de empresas e investidores, onde as empresas disponibilizam ações, títulos, debêntures e demais ativos para a captação de recursos. Esse é o mercado ao qual participamos enquanto investidores.
Órgãos econômicos do mercado de capitais
Algumas instituições possuem forte influência na regulamentação e fiscalização do mercado financeiro e, consequentemente, do mercado de capitais. Algumas delas devem ser percebidas de perto pelo investidor, já que são elas que normatizam e supervisionam o sistema de compra e venda de ativos na bolsa de valores. É válido reforçar que todas as instituições estão interligadas de alguma forma, já que estão englobadas dentro do SFN.
CMN
O Conselho Monetário Nacional é a instituição máxima que rege o SFN, ele tem como objetivo formular a política de moeda e de crédito, focando na estabilização da moeda nacional e o desenvolvimento econômico e social do país. O conselho é formado por 3 integrantes, sendo eles: ministro da economia (presidente do Conselho); presidente do Banco Central; secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia.
BC ou Bacen
O Banco Central do Brasil é uma autarquia do SFN o que caracteriza que ela não possui uma relação de subordinação direta a algum Ministério. Seu papel é de “assegurar a estabilidade de preços, além de zelar pela estabilidade e pela eficiência do sistema financeiro, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”, ou seja, o BC é responsável em executar a política monetária do país, usando mecanismos de regulação de câmbio e da inflação para manter os mercados em equilíbrio.
CVM
A Comissão de Valores Mobiliários é uma instituição vinculada ao Ministério da Economia e possui “o objetivo de fiscalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado de valores mobiliários no Brasil”, as ações desenvolvidas pela CVM são relacionadas às atividades das empresas, “aos intermediários financeiros, aos investidores, à fiscalização externa, à normatização contábil e de auditoria, aos assuntos jurídicos, ao desenvolvimento de mercado, à internacionalização, à informática e à administração”, descreve o site Portal do Investidor.
Bolsa de Valores brasileira: Um papo rápido sobre a B3
Já que estamos falando sobre mercado de capitais, vamos falar sobre a B3, a bolsa de valores brasileira.
No Brasil possuímos apenas uma bolsa de valores, a Bovespa, que hoje recebe o nome de B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), e é fruto da união da Cetip S.A com a Bolsa Oficial de Valores de São Paulo. Nela o investidor pode efetuar negociações de compra e venda de ativos de empresas que possuem o capital aberto e que estão abrindo o capital.
Atualmente, são negociados ativos de mais de 400 empresas na bolsa, além deles, a B3 vem batendo recordes com novas empresas fazendo o IPO (Initial Public Offering) – que é nada mais é que a abertura do capital na bolsa . Esse cenário apresenta a amplitude que a bolsa de valores brasileira, que é listada como uma das mais importantes do mundo, tem alcançado. Um reflexo disso é o aumento de CPFs cadastrados na bolsa, são exatos 3.791.276 de acordo com a atualização do dia 08/07/2021.
O aumento do número de investidores e de empresas listadas na bolsa de valores se dá em reflexo as políticas de juros, inflação e demais assuntos que permeiam a política macroeconômica do país. Esses aumentos refletem diretamente na dinâmica dos ativos, como preços, liquidez, volumes de negociação e demais aspectos fundamentalistas e técnicos.
Agora que você já conhece o sistema que gira acima do mercado de capitais, chegou a hora de entender como o cenário político interno e externo afeta o mercado financeiro.
Política Interna e seus impactos econômicos
Você se lembra das manifestações de 2013? Da greve dos caminhoneiros de 2018 ou da eleição e declarações do atual presidente da república? Se você já acompanha o noticiário brasileiro a um tempo deve sentir calafrios ao lembrar de alguns acontecimentos e, principalmente, os efeitos que esses fatores causaram no mercados de ações.
Todos esses fatores acima são representações de situações que afetaram a economia de forma direta. Em junho de 2013, durante o governo Dilma (PT), as ruas do país foram tomadas, a motivação foi o reajuste na tarifa de transporte público. Os protestos que inicialmente eram contra o ajuste de R$0,20, se transformaram em um conglomerado de pautas, que afetaram a confiança dos investidores nacionais e internacionais no país. Os protestos de 2013 ditaram a pauta econômica do momento, causando assim uma situação caótica no mercado.
Outros acontecimentos foram bem significativos como, por exemplo, o conhecido como Joesley Day. Após a delação premiada de Joesley Batista, dono da JBS, a bolsa de valores sofreu uma queda de mais de 10% com a divulgação de uma gravação colocando o até então presidente Michel Temer sob o olhar da investigação da Procuradoria Geral da República (PGR). A delação resultou em um circuit breaker, o primeiro desde a crise de 2008. No dia 18 de maio de 2017, o ibov fechou em queda de 8,8% e o dólar teve uma alta de mais de 8%.
Nas eleições de 2018, a vitória de Bolsonaro refletiu diretamente na bolsa, elevando a confiança do investidor e baixando o dólar na casa de 1,3%. A motivação eram as promessas de reformas que faziam parte da agenda política do presidente. Em setembro de 2019, alguns meses depois da sua posse, o cenário já havia se desestabilizado e o país já estava enfrentando sérios problemas no mercado, um cenário equiparado ao de 2008. A situação se complicava cada dia mais por culpa do grande número de discursos e atuações polêmicas que Bolsonaro se envolvia.
Esse cenário se reflete também no contexto pandêmico. Em março de 2020, a crise da Covid-19 assolou a bolsa de valores e tornou o mercado financeiro em um verdadeiro mar vermelho. Mais de um ano após o boom da crise de 2020, a retomada das atividades e da confiança no mercado interno está ligado diretamente à vacinação em massa, pauta que enfrenta muitas dificuldades dentro do governo. A polêmica antivacina ativa o sinal de alerta dos investidores, pois impossibilita a retomada das atividades econômicas.
Os exemplos acima apresentam o impacto que atitudes que atravessam o cenário político podem ter na bolsa de valores. As atitudes dos representantes da nação causam efeitos diretos sobre a produção industrial e comercial, além de impactarem nas decisões de consumo da população. São as decisões políticas-econômicas que afetam o funcionamento geral dos mercados, por isso, quando um governo decide não utilizar de algum artifício ou dá declarações controversas que irão dificultar a retomada da economia, o mercado reage diretamente.
Lembra que existem órgãos reguladores do sistema financeiro? Pois são esses órgãos que fazem com que as decisões diretas cheguem ao mercado. Entretanto, alguns acontecimentos políticos, como as manifestações e greve dos caminhoneiros, refletem indiretamente no mercado e tudo motivado por decisões que o governo julga serem corretas naquele momento.
Todas essas questões reverberam também nas relações comerciais internacionais, o que traz ainda mais insegurança e afasta o capital estrangeiro da bolsa. Desta forma, podemos tirar exemplo das duras críticas do presidente da França, Emmanuel Macron, e da chanceler alemã Angela Merkel às decisões do governo brasileiro referentes ao meio ambiente. Outro exemplo são as declarações recentes contra o Governo chinês emitidas por alguns personagens políticos brasileiros. Essas declarações causaram problemas na entrega de insumos para a produção de mais doses da vacina, o que, no fim, resulta em um atraso na retomada da economia.
Política Externa e a influência indireta e direta no mercado
Como já vimos acima, a economia global está totalmente conectada. Hoje, existem inúmeras entidades de discussões econômicas, instituições de financiamento e apoio econômico, blocos econômicos, etc., tudo isso somado a um complexo sistema de relações comerciais. Partindo desse sistema, podemos entender que as políticas externas podem afetar direta ou indiretamente o mercado de capitais do nosso país. Isso porque as decisões do sistema financeiro nacional de cada país afetam os demais países ao qual ele se relaciona.
Podemos ver um exemplo das atitudes protecionistas do ex-presidente Donald Trump com a importação de alumínio e aço, sua política afetou diretamente o Brasil que é um forte exportador desse tipo de commodity. Outro exemplo, ainda da maior economia do mundo, é o funcionamento da taxa de juros americano, que deve ser observada de perto, pois um aumento pode significar uma fuga de capital estrangeiro dos países emergentes –como o Brasil, para investimentos nos EUA que apresenta um mercado muito mais sólido e seguro.
Fatores como as discussões e problemas enfrentados entre os países-membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) podem afetar diretamente as ações de empresas como Petrobrás e Petrorio. Um exemplo é a decisão recente de aumentar a produção de petróleo que influenciou diretamente no valor do barril e, consequentemente, afetou as empresas que trabalham com essa commodity.
Desta forma, podemos perceber que declarações de representantes do Estado, políticas internas, tensões externas, como as guerras em países europeus ou as trocas de acusações entre o Governo chinês e americano, impactam no dia a dia do investidor brasileiro. Essas ações impactam a disponibilidade de determinados produtos, dificultam a comercialização e expansão de empresas, atrasam o crescimento dos países e esvaziam o bolso do investidor aqui no Brasil.
Bolsa de valores, o investidor e o noticiário econômico
O noticiário econômico costuma ser bem movimentado e muitos investidores iniciantes, ou até mesmo experientes, ficam perdidos com a quantidade de informações. A boa notícia é que não é preciso ficar 100% do seu tempo acompanhando as notícias econômicas – isso, é claro, se suas estratégias de operação não forem de day trade.
O trader deve acompanhar os acontecimentos para ter ciência e poder otimizar suas operações, mas o investidor de médio e longo prazo não possui a mesma necessidade de acompanhamento, até porque para esses investidores a estratégia de investimentos não leva em conta o acontecimento imediato, pensando assim em um prazo maior.
Um exemplo é o investidor que se posicionou na Magazine Luiza, uma empresa que passou por uma temporada ruim e hoje é considerada uma das maiores da bolsa. O investidor que se manteve dentro da sua estratégia, conseguiu bons resultados com o MGLU3 nos últimos meses.
Claramente, um investidor de médio e longo prazo não precisa se apegar a acontecimentos imediatos, mas isso não exime a obrigação de estar por dentro de acontecimentos relevantes no cenário político e econômico do Brasil e do Mundo. Um bom investidor é a aquele que estuda e se mantém informado.