Escrito por Investimentos

Descomplicando a inflação

A inflação segue sendo uma incógnita na cabeça de muitas pessoas, por isso, neste artigo nós estamos descomplicando o termo para você!

na imagem uma calculadora, uma documento com vários números, uma régua e algumas moedas | Descomplicando a inflação
Foto: pixabay

A inflação é uma velha conhecida dos lares brasileiros. Mas, apesar de famosa e muito falada em todos os jornais, ela tem seu status de importância equiparado ao seu status de mal compreendida. 

Se você é uma das pessoas que escuta o âncora do jornal das oito dizendo “Inflação de junho tem alta de 0,73%” e já pensa “o que esse homem está falando? Eu não estou entendendo nada!”. Não se preocupe, vamos descomplicar a tão temida e comentada inflação para você. 

Após a leitura desse artigo você será capaz de entender tudo o que o apresentador fala e ainda aplicar os aprendizados nos seus investimentos e nas decisões do seu dia a dia. Está preparado (a) para essa mudança? 

Então vem comigo!


O que você vai aprender


O que é inflação?

De acordo com o Banco Central do Brasil (BC), “inflação é o aumento dos preços de bens e serviços”. Ou melhor dizendo, a inflação é o aumento generalizado, sistemático e contínuo de um grupo de produtos que compõem a chamada cesta de produtos e serviços. 

A cesta nada mais é que uma união de itens básicos consumidos pela população. A inflação é a desvalorização do dinheiro, ou seja, quando ela aumenta, o seu dinheiro perde valor. Lembre-se que a inflação está inserida em um sistema cíclico, logo, entendemos que ela é afetada por diversos fatores.

Você pode pensar dessa forma: se você compra 5 pães a R$2,00 hoje, quando a inflação aumenta, significa que  comprará somente 3 pães por R$2,00. A quantidade de dinheiro é a mesma, mas o seu valor é menor.

É importante ressaltar que a sua relação com a economia é mais extensa e está interligada com a quantidade de dinheiro disponível no mercado e com outras taxas. A inflação é como um imposto sobre a moeda, ou seja, o que se comprava por um preço antes, não será mais o mesmo.

na imagem há algumas notas de real e alguma moendas espalhadas sobre uma superfície plana. | descomplicado a inflação
foto: joaogbjunior

Linha do tempo da inflação no Brasil

Você, provavelmente, já ouviu falar sobre os tempos sombrios onde nunca se sabia quanto um produto no mercado iria custar no dia seguinte. Esse período ao qual nos referimos são as décadas de 1980 e 1990, onde a inflação começou a crescer e cenários como corte de zeros, tablitas de reajuste, congelamento de preços, gatilho salarial, indexadores e confisco eram comuns no dia a dia do brasileiro, isso tudo devido a hiperinflação.

Em busca do controle desse cenário, diversos planos econômicos e moedas foram adotadas para tentar conter os aumentos que atrapalhavam o desenvolvimento econômico do país. Eles foram:

  • Fevereiro/1986: Plano Cruzado I
  • Novembro/1986: Plano Cruzado II
  • Junho/1987: Plano Bresser
  • Janeiro/1989: Plano Verão
  • Março/1990: Plano Collor I
  • Janeiro/1991: Plano Collor II
  • Julho/1994: Plano Real

Entre fevereiro de 86 até junho de 94 todos os planos haviam fracassado e a inflação atingia níveis históricos. Em 1990, no mês de março, a inflação chegou a atingir 82,39% ao mês e em 1989 a taxa anual da inflação chegou a atingir 1.972,91%. Então, somente após a criação do plano real pode-se haver uma estabilização da moeda e, como consequência, a inflação passou a patamares menores.

Atualmente, a inflação é observada de perto pelas instituições e organizações responsáveis pelo controle da economia do País. Essas instituições acompanham para que o governo tome medidas para que a inflação respeite o Regime de Meta da Inflação, mecanismo criado para manter a inflação controlada.

Regime de metas da inflação

As metas da inflação passaram a ser adotadas a partir do ano de 1999 com o intuito de não deixar que o cenário de hiperinflação das décadas de 1980 e 1990 se repetissem outra vez. Sendo assim, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelece para cada ano uma meta inflacionária e fica a cargo do Banco Central (BC) manter a inflação dentro da meta definida pelo Conselho. 

Essa taxa é fixa e chamada de centro da meta, mas possui uma porcentagem de aceitabilidade – a famosa margem de tolerância – que serve para cima e para baixo. Aos índices máximo e mínimo damos o nome de teto da meta e piso da meta, respectivamente.

Não há uma punição caso o BC não consiga manter-se dentro do Regime de Metas. Porém, é necessário que o presidente da entidade dê satisfações ao governo e explique por quais motivos não foi possível seguir as metas estabelecidas e quais serão as medidas para reverter o cenário.

Centro da Meta

Podemos chamar de alvo, porque esta é a inflação que se deseja atingir e todas as outras métricas estão relacionadas a ela. Em 2021, o centro da meta a ser perseguido pelo BC é de 3,75%.

Margem de tolerância

A margem pode ser lida como a zona na qual ainda é aceitável aquela inflação. No ano de 2021, esse intervalo ficou definido em 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos.

Teto da meta

O teto é a inflação máxima que pode se atingir. Se pegarmos os dados referentes a 2021, o teto da meta deste ano seria de 5,25%.

Piso da meta

O Piso é o mínimo que se pode atingir para que os preços não fiquem baixos demais ou que se entre em deflação. No cenário de 2021, a inflação mínima seria de 2,25%.

Quem controla e como se controla a inflação?

Não há alguém que defina por decreto, lei, carta ou ordem a porcentagem em que a inflação se estabelecerá naquele mês ou ano, pois a inflação é definida a partir de uma metodologia. Entretanto, como vimos acima, há um consenso e um sistema no qual se deve basear para que a inflação esteja sob controle e não traga malefícios para a economia do país.

A instituição responsável pelo cálculo do índice que define a inflação é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a instituição responsável em definir medidas de contenção e aquecimento da inflação é o BC.

Uma das ferramentas utilizadas para controlar a inflação é a taxa básica de juros, a qual chamamos de Taxa Selic. Ela é um dos principais mecanismos de controle que o Comitê de Política Monetária (Copom) utiliza para a contenção. O Comitê se reúne a cada três meses para definir a taxa que irá influenciar os demais juros, assim, buscando conter ou minimizar os impactos causados pela inflação.

Como ela é calculada?

A inflação oficial, aquela que o governo utiliza, é vinda do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Esse índice é calculado pelo IBGE e sua metodologia visa avaliar a variação de preços de itens de consumo básicos – a chamada cesta de produtos e serviços. A cesta é composta por mais de 460 subitens com pesos diferente nas categorias de:

  • Transporte (20,54%)
  • Alimentação (23,12%)
  • Habitação (14,62%)
  • Saúde e cuidados pessoais (11,09%)
  • Despesas pessoais (9,94%)
  • Comunicação (4,96%)
  • Educação (4,37%)
  • Vestuário (6,67%)
  • Artigos de residência (4,69%)

São analisados e comparados mais de 430 mil preços em 30 mil locais de 13 áreas urbanas do País. O levantamento é mensal e ocorre do primeiro ao último dia de cada mês, e sua divulgação acontece em meados da segunda semana de cada mês seguinte à captação. É válido ressaltar que o impacto de cada item nas rotinas das famílias será diferente, pois o índice é, como o próprio nome diz, amplo. Ele faz uma média baseada em famílias que recebem de 1 a 40 salários mínimos, por isso, o impacto da inflação é sentido de forma diferente em camadas economicamente menos favorecidas.

Principais indicadores da inflação

Oficialmente, o governo utiliza o IPCA como forma de medir a inflação em todo o âmbito nacional. Porém, há outros indicadores que auxiliam a compreensão da saúde econômica do país e também nos auxiliam a identificar o comportamento em determinados setores. Abaixo você pode conferir cada um destes indicadores e para que servem:

IPCA – Índice  Nacional de Preços ao Consumidor Amplo

Engloba a maior porcentagem da população, algo estimado em 90%. Visa estimar o valor de custo de vida médio de famílias que têm renda de 1 a 40 salários mínimos residentes em área urbana.

INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor

Possui a mesma finalidade que o IPCA, entretanto, a sua mudança está na porcentagem da população que ele visa investigar. O público alvo é o de famílias que possuem renda de 1 a 5 salários mínimos, grupo que geralmente é afetado diretamente pelas oscilações da inflação.

IPCA-15 

A sua diferenciação está no recorte temporal, pois seu tempo de coleta de dados é entre os dias 16 do mês anterior e 15 do mês de referência e é utilizado como prévia ao dado oficial.

IPCA-E 

Nome dado ao acumulado trimestral referente ao IPCA-15.

IPP – índice de Preços ao Produtor

Este é o índice focado no setor industrial, ele tem o objetivo de medir a variação de preços de venda que os produtores de bens e serviços receberam.

Sinapi – Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil

Construído pelo IBGE em parceria com a Caixa Econômica Federal, este índice mede a oscilação de preços no setor habitacional e de construção civil.

IGP-M – Índice Geral de Preços – Mercado

Utilizado para ajustes em contratos de aluguel, seguros de saúde e em tarifas públicas, o IGP-M é, na verdade, um índice formulado por outros três, sendo eles: IPA-M, IPC-M e INCC. A instituição responsável pelo cálculo é a Fundação Getulio Vargas (FGV)

IGP-DI – Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna

É um índice também calculado pela FGV e tem como objetivo extrair informações da variação de preços nos setores da indústria, construção civil, agricultura, comércio varejista e serviços prestados às famílias

IPC-Fipe – Ìndice de Preços ao Consumidor

Elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), esse índice tem como propósito medir a variação de preços na cidade mais populosa do País, São Paulo. Ele faz o apontamento do custo médio de vida das famílias com renda entre um e dez salários mínimos.

Quais são as causas da inflação?

As causas podem ser de curto ou longo prazo. Por se tratar de um movimento cíclico na economia, uma causa afetará a outra, ou seja, não dá para isolar um fator e acusá-lo como o culpado dos aumentos. Geralmente, a inflação é ligada a:

Aumento da demanda: 

Ação de curto prazo, onde muitas pessoas querem um determinado item e as indústrias não conseguem suprir a demanda, o que resulta em aumento dos preços. Isso pode acontecer também por ter mais dinheiro em circulação, o que aumenta o poder de compra e eleva a demanda.

Redução da oferta: 

Também é uma ação sentida a curto prazo. Ela acontece quando por algum motivo a produção de um determinado produto é reduzida, seja pelo custo mais alto ou transporte mais complexo. Assim, a oferta desse produto será menor e o seu preço aumentará.

Emissão de dinheiro: 

O governo pode ter que injetar mais dinheiro na economia para pagar as contas públicas. Ao fazer isso, ele irá causar um aumento de dinheiro rodando no mercado e, assim, fará com que o valor do dinheiro seja menor. Essa ação é sentida a longo prazo.

Diminuição dos juros:

Ao diminuir a Selic, a taxa básica de juros, o governo estimula que as empresas façam mais empréstimos para que as pessoas consumam mais, logo, isso irá acarretar um aumento de demanda e mais a frente influenciará na inflação.

Quais são as consequências

A inflação descontrolada interfere em diversos aspectos na economia, em sua maioria, negativos. De modo geral, podemos avaliar que em um cenário ideal, a inflação seria controlada para não impossibilitar que a população tenha acesso aos produtos e serviços. Também não seria negativa, porque aí teríamos um cenário de deflação.

A inflação é acompanhada de perto, pois o seu aumento descontrolado causa incertezas no dia a dia da população, afeta os investimentos, causando desestimulação e impossibilita que a economia se desenvolva de maneira saudável. 

As consequência negativas de uma alta na inflação são sentidas especialmente pelas camadas menos favorecidas economicamente, já que elas usam a maior parte da sua renda em produtos e serviços básicos e, muitas das vezes, não conseguem fazer investimentos.

Um outro ponto é o aumento da dívida pública, que se elevará devido aos recursos financeiros que o governo precisará colocar na economia para suprir despesas que ficaram acima da arrecadação com impostos e tributos. 

Na prática, o governo emite novos títulos que pagam juros acima da Taxa Selic, pois esses títulos são formas do governo captar dinheiro para pagar as contas, mas em determinado momento ele deverá devolver esse montante ao investidor e, por isso, teremos o aumento da dívida.

Desse modo, empresas recebem menos investimentos e a economia sofrerá as consequências desta redução, resultando em desempregos, produtos mais caros e etc.

De forma resumida, as consequências são:

  • Incertezas na economia interna
  • Dificulta o planejamento empresarial
  • Inibe investimentos
  • Diminui a renda
  • Causa desemprego
  • Desestimulação da economia
  • Enfraquecimento do poder de compra do consumidor
  • Aumento da Dívida Pública

Como a inflação impacta o dia a dia do consumidor?

Como comentamos anteriormente, a inflação atinge a cada grupo de uma determinada forma, mas uma coisa é certa: inflação alta não é boa para ninguém. O consumidor sente o impacto direto da inflação em suas compras mensais. Um grande exemplo é a forma como as pessoas na década de 80’ estocavam produtos devido à incerteza que sentiam, porque não sabiam se o preço de um alimento seria o mesmo no outro dia.

Este é um exemplo intenso, mas realista. Sendo assim, se trouxermos para o nosso dia a dia, podemos entender que com a oscilação dos valores provocados pela inflação, teremos problemas em relação ao valor do nosso dinheiro, isso é, não poderemos ter as mesmas coisas pelos mesmos preços. 

Imagine que você vai comprar um produto de R$5,00 e você tem uma nota de R$5,00. 

Só que a sua nota desvalorizou e ela não vale mais R$5,00 e sim R$4,50. O preço do produto se mantém, mas para comprá-lo, será preciso desembolsar mais dinheiro.

Foto: ijeab

Inflação x Investimentos

Agora que você já entendeu que a inflação atinge diretamente o seu dia a dia, chegou a hora de compreender como ela afeta os seus investimentos. Primeiramente, é importante ressaltar que em todos os seus investimentos é preciso levar em conta a inflação por causa da desvalorização da moeda. 

Para ilustrarmos melhor, pense assim: você quer comprar uma blusa de R$100,00, mas ao invés de gastar esse dinheiro, você resolve investi-lo e após um ano faz o resgate no valor de R$110,00. Assim, podemos identificar uma valorização de 10%. Após resgatar o dinheiro, você resolve olhar o preço da mesma blusa que havia visto, porém o valor dela agora é de R$104,00, uma alteração inflacionária de 4%.

Assim, podemos perceber que o seu investimento teve uma valorização real de 6% acima da inflação, que foi de 4% no ano. Já o seu retorno nominal foi de 10%. 

Portanto, ao pensar em um investimento, é sempre bom estudar também os cenários inflacionários que se desenham. Para isso, você pode contar com as projeções de diversos especialistas e até mesmo do governo.

Inflação e Selic

Existem algumas ferramentas que o governo e o BC utilizam para conter a alta da inflação e ficar dentro do regime de metas. 

A principal ferramenta utilizada é a taxa básica de juros, Selic. Ela é definida trimestralmente em uma reunião do Copom e funciona como uma referência para que os bancos possam definir o quanto irão cobrar dos seus clientes.

A Selic acompanha o movimento da inflação, pois o seu intuito é auxiliar no controle da mesma. Quando temos a taxa de juros baixa, nós consumimos mais, pegamos mais empréstimos, financiamos mais, ou seja, mais dinheiro rodando e, como já vimos anteriormente, isso resulta em alta da inflação no longo prazo. Ao desestimular esse consumo, o BC tem como propósito controlar a inflação.

O que é inflação acumulada

A inflação acumulada nada mais é do que o acúmulo da inflação em um determinado período pré-estabelecido. Você pode definir um trimestre, um ano, uma década ou até mesmo fazer um recorte temporal mais específico. Para as definições destes números há fórmulas matemáticas específicas, mas, para facilitar, você pode acompanhar esse índice diretamente no site do IBGE.

Outro ponto para ter atenção é que há outros indicadores que podem te auxiliar melhor na sua pesquisa ou estudo, então não se esqueça deles quando for analisar a inflação.

na imagem é possivel observar o grafico de projeção e o histórico do regime de metas da inflação acumulada  de 12 meses dos anos de 2011 até 2021 | descomplicado a inflação
Fonte: Banco Central do Brasil

Deflação não é a solução

Se a inflação é o aumento generalizado dos preços, entende-se que a deflação é a diminuição generalizada dos preços, correto? Então viver em deflação seria a solução para que o caos inflacionário não se estabeleça?

Não! A deflação é tão maléfica para a economia quanto a inflação, por isso o BC atua na procura do equilíbrio dos preços, buscando não ser muito alta para não ocorrer tudo isso que falamos acima e também para não ficar baixa de mais. A deflação também afeta diversos aspectos da economia e é sinal de uma economia com problemas. Mas, sobre a deflação falaremos melhor em um outro artigo, combinado?

Close Search Window
Close